sexta-feira, 24 de julho de 2009

"Livro de Papel Desaparecerá"

Jean Paul Jacob
Engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA), com doutorado duplo em Ciências e Matemática, Jacob é cientista
emérito do Centro de Pesquisas da IBM em Almaden, no Vale do Silício, o
principal pólo tecnológico do mundo, e professor da Universidade da Califórnia,
em Berkeley (EUA).
Seus interesses em sistemas de apoio à decisão, engenharia de
software, interfaces entre usuários e computadores, o levaram para área de
previsões de futuras tecnologias e possíveis cenários, tornando-se conhecido
internacionalmente através de mais de 300 entrevistas para jornais e revistas,
em 12 países.
Aproveitando seu treinamento em shows do ITA, Jean Paul também deu
31 entrevistas para TVs, incluindo - nos extremos - duas para a CNN e quatro
para o Jô Soares. Jean Paul também já deu pelo menos 300 palestras em 15
países e tem vários prêmios, orgulhando-se principalmente de ter recebido dois
prêmios importantes da escola de Engenharia de Berkeley, considerada em
2005 a melhor do mundo pelo Times de Londres. É recipiente dos prêmios
"Distinguished Alumni" em 1993 e "Resarch Leadership Award" em 2003.
Orgulha-se igualmente por ter sido escolhido como paraninfo da turma de 1996
do ITA. Em 2006 recebeu o primeiro Prêmio Destaque Iteano
Jean Paul Jacob – que, apesar do nome afrancesado e de viver nos
Estados Unidos há mais de quatro décadas, é paulistano – é conhecido por
suas previsões sobre como a tecnologia irá impactar nossas vidas nas
próximas décadas. Na década de 1980, por exemplo, ele já anunciava o fim do
vinil e profetizou o surgimento dos computadores portáteis, das câmeras
digitais e dos eletrodomésticos inteligentes.
. Aos 71 anos, 45 deles atuando como pesquisador da IBM nos Estados
Unidos, Jacob continua como uma espécie de futurólogo a exercitar-se na bola
de cristal. Ele é tão instigante quanto o futuro que antevê. Não usa celular,
ignora a maioria dos e-mails que recebe e tem um avatar (personagem
tridimensional na internet) que é até prefeito de uma ilha virtual no Second Life.
Bia Parreiras
"Não existe personalização maior do que
esta: a TV que só transmite o que o usuário
quer"
“Livro em papel desaparecerá dentro de 30 anos”
Fonte: Site Multirio – Século XXI - 14 de abril de 2005
http://www.multirio.rj.gov.br/sec21/almanaque_artigo.asp?cod_artigo=2560
Por Maria Cristina Martins
Trinta anos é o prazo que o brasileiro Jean Paul Jacob, prevê para que os meios
digitais substituam o livro em papel - isto considerando os países chamados em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Para os mais desenvolvidos, a mudança
aconteceria antes: "nove anos, seis meses e 17 dias", brinca o pesquisador.
- Quando eu dizia que o vinil ia acabar, as pessoas me xingavam. No futuro, o
livro em papel vai estar para o digital assim como o vinil está, hoje, para o CD ou o
DVD - compara Jacob.
O pesquisador define o livro em papel como "tinta sobre árvore morta" e
destaca como vantagens do digital a possibilidade de adaptação dos caracteres e a
facilidade de atualização do conteúdo. Diante dos argumentos de que o suporte
convencional permite a leitura em qualquer lugar, Jacob rebate com um exemplo
pessoal:
- Para ler na cama, é necessário estar com a luz acesa, já que o livro não tem
iluminação própria. Como minha esposa era sensível à luz, eu tinha que ler com a
"lanterninha de mineiro", que se amarra na testa, e precisava abaixar a cabeça. Não
era confortável.
O termo ebook (livro eletrônico) refere-se a duas situações: o livro que foi
digitalizado, podendo, portanto, ser acessado pela internet; e um aparelho que permite
armazenar mais de mil páginas e tem o tamanho, o formato e o peso de um livro
tradicional. De acordo com o editor e idealizador da eBookCult, Ednei Procópio, já há
disponíveis na web cerca de cem mil títulos apenas em língua portuguesa. Quanto ao
aparelho, ainda não é vendido no Brasil.
Segundo Jacob, a IBM atualmente trabalha no desenvolvimento de um chip de
projeção que permitirá a leitura em qualquer espaço branco, como uma parede,
usando a tecnologia Mems (micro-eletronics mechanical systems) e DLP (digital light
processing). Esse chip poderá ser acoplado em objetos usados pelas pessoas
cotidianamente, como relógios, óculos ou jóias. Isso tem relação com a chamada
computação pervasiva ou ubíqua - a idéia de disponibilizar o acesso à computação em
qualquer lugar e o tempo todo.
- O que as pessoas querem? Comunicar-se, conectar-se com outras pessoas,
com informação e entretenimento, a qualquer hora e lugar. Para isso, têm de estar
constantemente com o instrumento de conexão - explica Jacob.
Professor do Departamento de Informática da Universidade do Estado de São
Paulo (USP), Alan Mitchell Durham diz que a computação ubíqua vem sendo discutida
na academia, assim como a questão do ensino não presencial, com utilização da
internet. O aparelho de leitura digital, porém, ainda não é uma questão difundida.
- O livro eletrônico tem apelo maior no "primeiro mundo", onde o custo relativo
da tecnologia é menor. Acredito, porém, que pode ter um apelo forte no meio
empresarial, onde a alta demanda associada à capacidade de investimento e
necessidade de redução de custos tornam a adoção dessas tecnologias muito
atraente. Um exemplo é o uso de PDAs, que se expandiu muito - afirma.
Segundo o professor do Instituto de Computação da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) Jacques Wainer, ninguém na área de computação no Brasil
estuda especificamente este assunto, porque, de um ponto de vista acadêmico e
técnico, não seria um tema interessante. Sobre o fim do papel, ele contrapõe uma
previsão que se fazia nos anos 1980.
- Falava-se do escritório sem papel (paperless office), que ainda não se
materializou. Parece-me que o consumo de papel continua sempre crescente - diz.
Durham acredita ser possível, em termos de tecnologia, que o papel seja
substituído, mas ressalta que a previsão só faz sentido quando se fala nos chamados
países desenvolvidos. Além disso, faz uma comparação com a previsão de que a
internet mataria os jornais em papel, o que ainda não aconteceu.
- Não podemos subestimar a relação subjetiva das pessoas com a
manipulação do material impresso. Acredito que isso não seja viável nem a médio
prazo. Duvido que alguém imagine, por exemplo, livros eletrônicos nos países pobres
da África ou em boa parte da Índia - lembra Durham.
O professor do Departamento de Computação da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) Eduardo Savino Gomes considera a opinião de Jean
Paul Jacob relevante, mas atenta para a questão do costume.
- Jean Paul Jacob é respeitadíssimo pela suas previsões, pois tem uma gama
de informação muito superior a de muitos professores nos meios acadêmicos. Ele
deve ter conhecimento de que o custo do livro em formato digital devem torná-lo muito
mais atraente. Porém os hábitos dos leitores, como colocar anotações em páginas ou
levar o livro para qualquer lugar, também contam para se fazer uma previsão de
tendência de mercado - avalia.
Professor do Departamento de Informática da USP, Flávio Soares Correa da
Silva tem opinião diferente em relação à previsão de Jacob. Para ele, definir prazos
para a ocorrência de eventos científicos ou tecnológicos costuma ser um ato
ridicularizado nos meios científicos, por expressar mais o desejo ou interesse de um
indivíduo.
- Tecnicamente, essas tecnologias já deram certo, uma vez que funcionam
conforme projetado. Mas socialmente visam a atender uma minoria que tem acesso
aos meios digitais. Além disso, livros em papel são, em si, uma forma de expressão.
Substituí-los por meios digitais significaria extinguir uma forma de expressão cultural e
artística. Aqueles que compartilham do prazer de passear por uma biblioteca ou por
uma livraria ou de manusear um livro, desconsiderando totalmente questões "práticas"
ou de "racionalização econômico-financeira", sabem do que estou falando - pondera.
De acordo com as assessorias de imprensa da Microsoft e da Apple, nenhum
representante das duas empresas quis falar sobre o assunto.
"O celular será um supercomputador"
Fonte: Revista Veja – Edição Especial – nov/2005 – Natal Digital
Por José Edward
Nesta entrevista, entre outras previsões, afirma que, em pouco tempo,
telefones celulares e videogames portáteis serão tão potentes quanto
supercomputadores e que, no máximo em três décadas, o livro de papel será
substituído por um similar digital.
Veja – Quais inovações tecnológicas serão incorporadas ao dia-a-dia das pessoas nos
próximos anos?
Jacob – Costumo dizer que o celular está se transformando numa espécie de canivete
suíço digital, que oferece, ao mesmo tempo, cada vez mais e variados serviços. A
convergência tecnológica ocorre de forma espetacular nos celulares. Cada vez mais
esse aparelhinho funcionará como um computador, que permitirá ouvir músicas, ver
vídeos, transmitir dados, acessar a internet, caixas eletrônicos e máquinas de
refrigerantes, entre outros. Em algumas cidades da Europa e da América do Norte, até
os parquímetros estão interligados à internet por redes de comunicação sem fio, o que
permite que os motoristas paguem o estacionamento pelo celular.
Veja – Além do celular, que outros equipamentos se beneficiarão da convergência?
Jacob – Os videogames. A tendência é que sejam acopladas cada vez mais funções a
esses aparelhos. A IBM, por exemplo, está desenvolvendo um poderosíssimo
processador, o Cell Chip, que é na verdade um supercomputador com dez vezes mais
potência que os chips comuns. Ele permite que os videogames se transformem em
computadores pessoais nos quais o usuário, além de jogar, poderá ver TV e acessar a
internet, entre outras funções. Esse superchip será lançado oficialmente em 2006, mas
já está sendo testado em games da Sony e em TVs da Toshiba. Graças a ele, já é
possível, por exemplo, ouvir MP3, ver fotos e assistir a filmes no Playstation portátil, da
Sony.
Veja – O senhor daria outro exemplo de aplicação desse superchip?
Jacob – Ele permitirá também que os gamemaníacos fiquem plugados o tempo todo
na web e possam, por exemplo, acessar internet banking a partir do videogame. Além
disso, como teremos uma enorme quantidade de games em rede, é possível que haja
uma grande expansão de jogos educacionais ou pedagógicos. As escolas poderão
aproveitar a destreza que os jovens têm com aqueles botões e programar cursos mais
atrativos, por meio de jogos.
Veja – Que outras tendências o senhor vê?
Jacob – A massificação com personalização dos serviços e do entretenimento. Ou
seja: a possibilidade de produtos fabricados em massa poderem ser adaptados aos
gostos e interesses de usuários específicos. O melhor exemplo nessa área é a TV
digital. No futuro, todos os aparelhos de TV serão idênticos, mas cada pessoa vai
poder formatar a seu bel-prazer a programação. Você "dirá" à TV os assuntos de sua
preferência e ela selecionará automaticamente em todos os canais os programas
disponíveis que atendem ao seu perfil. À noite, quando voltar para casa, terá um canal
preparado exclusivamente para você. No futebol, por exemplo, será possível
selecionar apenas os jogos do seu clube. Melhor ainda: no caso de derrota dele, para
não se aborrecer muito, você poderá ordenar que seja gravado apenas o compacto do
jogo. Não existe personalização maior do que esta: a TV que só transmite o que cada
indivíduo quer.
Veja – A TV de alta definição é realmente um ganho para o consumidor ou apenas
uma "necessidade" criada pelo mercado e imposta ao público?
Jacob – É, sem dúvida, um grande avanço para o consumidor, porque associa alta
definição com digitalização. Há uma série de vantagens, como o fato de o
telespectador estar assistindo a um programa, clicar em algum objeto ou personagem
na tela e poder obter, instantaneamente, mais informações sobre ele. Teremos, enfim,
uma televisão personalizada e inteligente.
Veja – E os home theaters?
Jacob – Os home theaters terão alto-falantes altamente direcionados, de tal forma que
duas pessoas poderão ver canais e ouvir músicas diferentes, simultaneamente, no
mesmo aparelho, cada uma com seu controle remoto. Através de efeitos holográficos
ou de imagens polarizadas, pessoas sentadas em ângulos diferentes poderão ter
áudio e imagens direcionados exclusivamente para elas.
Veja – Se celulares e outros equipamentos vão assumir o papel de computadores
pessoais, qual será o futuro dos notebooks?
Jacob – Os notebooks já chegaram ao que chamo de platô de produtividade. A
tendência é que o formato atual seja rapidamente transformado ou substituído por uma
série de instrumentos muito menores, mas com capacidade para executar as mesmas
funções, além de outras, como os já citados celulares e videogames.
Veja – Quais as vantagens desse acesso às tecnologias por vários meios?
Jacob – Costumo dizer que a web recolocou o homem no centro do universo. Hoje, a
grande demanda, em termos de tecnologia, é poder acessar e conectar pessoas,
informações e entretenimento a qualquer hora e em qualquer lugar. Junto com essa
onipresença da tecnologia, o que se pretende é que ela seja embarcada em aparelhos
que possam estar com o usuário o tempo todo. E, de preferência, que caibam no bolso
ou na bolsa.
Veja – O senhor sustenta a profecia que fez recentemente de que, dentro de no
máximo três décadas, o livro de papel será substituído pelo livro eletrônico ou digital?
Jacob – Na década de 1980, quando eu dizia que o disco de vinil ia acabar, quase era
apedrejado. Pois dou minha cara a tapa novamente: o livro em papel vai estar para o
digital assim como o vinil está, hoje, para o CD ou o DVD. O conceito de livro não
desaparecerá, mas você precisará comprar apenas um em toda a vida. O conteúdo
será todo colocado em um chip de memória ou na internet, assim como ocorre hoje
com os celulares. Já existem livros digitais apenas para ouvir, que podem ser baixados
em palmtops, celulares e iPods.
Veja – O que faz uma tecnologia "pegar" e outras não?
Jacob – A boa tecnologia é a que se traduz numa ferramenta que permite solucionar
problemas ou criar situações socioeconômicas, culturais e políticas desejáveis. Uma
empresa americana testou um telefone celular de papel feito com material
biodegradável. A idéia era que o usuário o utilizasse por uma ou duas horas, como
pré-pago, e o descartasse. Estudos de mercado revelaram, entretanto, que um
equipamento do gênero, pelo menos por enquanto, não é socialmente aceitável. A
tecnologia existe. Falta apenas viabilizá-la comercialmente.
Veja – Que fatores interferem na velocidade de viabilização de uma nova tecnologia?
Jacob – Vários, como a estratégia de comunicação e, sobretudo, a aceitação do
público. A velocidade de percurso, do disparo da tecnologia até sua viabilização, é
diferente para cada produto. Em média, uma tecnologia que pega se torna madura em
cinco anos, sendo que as grandes tecnologias conseguem se viabilizar com a metade
desse tempo. O CD, por exemplo, demorou menos de dois para atingir a maturidade
comercial. Já o celular precisou de mais de cinco anos, pois inicialmente era uma
tecnologia muito cara. Alguns produtos, como o videofone, talvez levem um século
para se viabilizar
"Os computadores vão todos sumir"
Fonte: Jornal Diário Catarinense – 19 de novembro de 2007
Ele defende que os robôs não vão dominar, porque máquinas não têm
capacidade de interpretar o sentimento contido em palavras
Agora, prevê o fim dos PCs e do que chama de "tinta sobre árvore morta", os livros.
Ele esbanja críticas à cultura do celular, que faz as pessoas pararem o que estão
fazendo para atender ao telefone, e defendeu que as tecnologias devem se adaptar ao
ser humano, não o contrário.
- Quanto mais bugigangas tecnológicas as pessoas tiverem, mais ficarão
escravas da tecnologia - disse.
A seguir, confira algumas de suas idéias sobre o futuro:
TECNOLOGIA DO FUTURO
- O ser humano tem uma mente que funciona tridimensionalmente. A internet em 3D é
a tecnologia do futuro. O resto não sabemos. O que vai acontecer quando tivermos a
capacidade de processamento do cérebro no bolso (por exemplo, em aparelhos do
tamanho de uma caixa de fósforos)? Tem muita gente que acha que os robôs vão nos
dominar. Mas acho insolúvel o problema do reconhecimento da fala, porque dois seres
humanos sempre entenderão diferentemente o que foi dito. Cada um interpreta as
palavras de um jeito, e elas evocam sentimentos diferentes. A ambigüidade do ser
humano é bonita. Ninguém nunca fará um sistema que possa conversar com você. O
computador não nos entenderá.
FIM DO PC
- Computadores vão todos sumir. Tudo vira computação. Um carro tem mais poder
computacional do que um desses laptops modernos. Hoje, existem vários lugares
onde há mais objetos conectados à internet do que pessoas. A previsão é que, dentro
de 10 anos, tenhamos 1 trilhão de usuários de internet. Nós só somos 6,5 bilhões de
pessoas no mundo. Todos os que estão faltando aí serão objetos. Nos Estados
Unidos, sensores ligados à internet (como os usados nos carros para passar em
sistemas de pedágio, entre outros) já ultrapassam o número de usuários humanos.
INTERAÇÃO COM O USUÁRIO
- A nossa comunicação com a internet não será mais feita por teclado e computadores
convencionais. Quando isso vai acontecer depende da cultura. Os jovens interagem
muito por telefone. Qualquer coisa que tenha informação, uma caneta, pode ser
projetada numa parede. Ou seja, os portáteis certamente serão o futuro do que
chamamos de computação ubíqua (em todos os lugares). Vamos interagir de várias
maneiras. Não preciso nem tocar na tela. Pode-se projetar sob uma mesa um teclado
virtual e usá-lo. É o que se chama de touch typing. Computadores com pequenas
câmeras podem olhar nossas expressões faciais, interpretar o que queremos de
acordo com o que estamos olhando na tela.
BROWSER COMO AVATAR
- Mundos virtuais são o futuro da internet. O browser (navegador de web) vira o avatar
(personagem tridimensional na web), que vai buscar as coisas. Hoje, o que o browser
faz por você é procurar sites e requisitá-los. Então o avatar vai e olha. Os avatares são
construídos pelos usuários. Isso soa como a Wikipédia (enciclopédia online
colaborativa), porque ela é construída por nós. Hoje, o Second Life é uma Wikipédia
gráfica.
ESVAZIAMENTO DO SECOND LIFE
- O Second Life foi um pioneiro, mostrou uma possibilidade de tecnologia, desinibiu as
pessoas para uma fase inovadora. Muitos concorrentes estão surgindo. Quem vai
vencer é muito difícil prever. Isso de hype (exagero) é só para quem entra (no Second
Life) e não tem a curiosidade de ver a riqueza de opções que o mundo virtual oferece.
Não posso viajar muito e visito novos locais pelo Second Life. Posso passear pela
Porto Alegre virtual porque não vou ter tempo de visitar a Porto Alegre real.
E-BOOKS
- Os livros são caros. Seria ideal lançar um livro eletrônico. Comprar só um livro na
vida e baixar da internet o conteúdo. Mas isso não pega porque as gerações atuais
estão acostumadas como o sistema atual. Não estão preparadas e não vão gostar de
ler (no e-book). Por isso, não falo mais do fim do livro, porque as pessoas vão me
odiar. A experiência (em que previu o fim) do vinil foi traumática. Hoje, existem nos
Estados Unidos bandas que tocam na internet. Se você gostou, pode mandar o quanto
quiser. A cultura diferencia o uso e o desenvolvimento de tecnologia.
Na verdade o PC vai estar em tudo, de outro jeito e como Jean mesmo disse:
não terá a capacidade de interpretar o sentimento humano contido em palavras!
“As pessoas querem poder falar com o
computador”
Fonte: Jornal Folha de São Paulo - 24 de março de 2008
Por Rodolfo Lucena
Para cientista, reconhecimento de voz avança, mas ainda é insuficiente para
permitir um diálogo com as máquinas
Nesta entrevista, feita por telefone, ele aponta desafios que a indústria e a sociedade
ainda precisam enfrentar.
FOLHA - Quais as grandes inovações tecnológicas dos últimos 25 anos?
JEAN PAUL JACOB - A primeira observação é que todos os destaques desse
período não eram previstos há 25 anos. Vou dar apenas dois exemplos. O primeiro é a
web, o aparecimento de uma interface gráfica na internet. E 25 anos atrás, nem
internet existia. Existiam algumas redes particulares de comunicação, muito limitadas,
sem interface gráfica, muito difíceis de utilizar. Então, em 1993, grande surpresa:
surge a web, que explode e muda o mundo da informática. E o outro destaque, que
afeta todos nós, é a intimidade que nós desenvolvemos no nosso relacionamento com
átomos, moléculas, bactérias etc. Essa intimidade era impossível de prever, porque o
átomo tem dimensões tais que não pode ser visto com o microscópio óptico.
Quando eu estudei no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), em 1960, nós
sempre ouvimos falar que o átomo não era visível porque tinha uma dimensão menor
do que o menor possível comprimento de onda de luz visível. De repente, nós
começamos a vê-lo, colocando o nosso dedo, por assim dizer, sobre sua superfície e
sentindo a presença do átomo como uma pequena montanha. As duas disciplinas que
mais impactarão nossa vida no futuro, a nanotecnologia e a bioinformática,
começaram exatamente no desenvolvimento da nossa intimidade com o átomo.
FOLHA - E que produtos marcaram o período? O celular? O notebook?
JACOB - O celular. Mas, mais genericamente, uma categoria de produtos que chamo
de assistentes pessoais digitais, que eu chamo de Asped. O Asped faz tudo por nós.
Então, nessa categoria, há o celular, o notebook, o GPS, as coisas como o iPod etc.,
produtos cujo sucesso não previmos, mas, também, não nos surpreenderam tanto.
O que mais me surpreendeu, pessoalmente, foi o telefone celular. Em 1987, houve
uma demonstração, nos EUA, de telefonia celular. A tecnologia já existia, mas o
aparelho era um receptor de rádio que tinha o tamanho e o peso de um tijolo.
FOLHA - Um monstro...
JACOB - Ficava no carro, porque era tão grande: tinha o tamanho, o peso e a
inteligência de um tijolo. Às vezes pegava, às vezes não pegava. Então, a evolução do
celular se deveu à tecnologia, que foi diminuindo o tamanho dos circuitos.
FOLHA - Aconteceram também fracassos, como o Simon, da IBM, e o Newton, da
Apple...
JACOB - Você mencionou dois que foram fracassos, mas não grandes. O maior
fracasso dos últimos 40 anos é algo chamado videofone. São telefones que tinham
uma tela de vídeo, onde você veria o seu interlocutor. Foram lançados os primeiros em
1964. Foram relançados uns 60 modelos-eu, pessoalmente, tenho uns 15 deles.
Esses relançamentos sempre foram baseados em pesquisa de opinião mostrando que
iam ser um sucesso. Nunca foram. Mudavam a estrutura de marketing: "Agora, vai
pegar". E nunca deu certo.
FOLHA - E quais são os grandes desafios de hoje? Bill Gates sempre falava de
linguagem natural e até hoje não temos nada próximo...
JACOB - Não só o Bill Gates, muitas outras pessoas sempre disseram isso. Era uma
vontade esmagadora. Eu raramente vi tanta uniformidade quanto em pesquisas de
opinião em que a gente perguntava qual é a tecnologia que você mais quer ver
aparecer. Era sempre o reconhecimento da voz pelo computador. "Eu quero conversar
com o meu computador, não quero ter que teclar, porque eu converso com outras
pessoas", diziam. É uma das ambições mais antigas. Já se fez um bom progresso
nisso. Há, por exemplo, um sistema usado pelo Exército dos EUA, um sistema para
traduzir do inglês para o idioma árabe, para que soldados americanos no Iraque
possam se comunicar com os locais. Os soldados falam em inglês, o sistema traduz e
reproduz, por meio de uma voz sintética, algo em árabe e vice-versa. É um sistema
bastante especializado, porque a conversa de um soldado com um local se refere à
saúde, à segurança etc.
FOLHA - Funciona em um contexto pré-definido.
JACOB - Exatamente, porque a linguagem é cheia de complicações. Há palavras que
soam iguais, mas têm significado diferente e só podem ser compreendidas em um
contexto. A frase em português "eu vim verificar" pode ser entendida também como
"eu vim ver e ficar". A mesma coisa com a frase "o livro da Vanessa": ela é dona ou
autora do livro? Haverá progresso, mas muito lento. Os idiomas têm ambigüidades. Se
você ler um poema que eu tenha escrito para mim mesmo, pode interpretá-lo de
maneira totalmente diferente. A interpretação de uma frase, de uma conversa,
depende do contexto social, depende do grau de intimidade dos interlocutores. Se
você diz: "As galinhas estão prontas para comer", pode significar que elas estão
prontas para se alimentar ou estão prontas para serem servidas em um almoço...
FOLHA - Quais outros grandes desafios para a próxima década?
JACOB - Outro grande desafio é encontrarmos alternativas a computadores que não
utilizem a tecnologia de hoje, que está chegando ao seu limite. Nós vamos precisar de
um poder computacional muito superior ao de hoje, e não temos tecnologia, não
podemos fazer transmissores e circuitos mais rápidos. Então, estamos adotando
soluções tipo paralelismo, múltiplos processadores, múltiplos núcleos etc., e podemos,
também, pensar em computador quântico. Ou seja, o desafio é conseguirmos
computadores que sejam de mil vezes a 1 bilhão de vezes mais poderosos que os de
hoje. E as pessoas perguntam: por quê? E a resposta que eu dou é muito simples: a
tecnologia tem que servir para resolver problemas sociais, econômicos, culturais ou
políticos.
Os problemas que eu tenho em mente são problemas de saúde, por exemplo, de
pragas, de doenças etc. Seria muito bom se nós conseguíssemos pesquisar proteínas
que combatessem essas pragas e as doenças em nível individual, levando em
consideração a higiene de um indivíduo. Para fazermos isso computacionalmente, o
poder requerido dos computadores é muito, mas muito maior do que o que temos hoje

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